sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Borboleta

Borboleta que voas lá tão alto. Que tens olhos brilhantes e asas cor de marfim, que tens magia á tua volta com um simples bater de asas, que mexes com o ciclo da vida. Diz-me o que eu não sei, explica-me como se eu fosse um ser vazio que nasceu agora para a vida, mas conta-me o que por aqui se passa, aqui e acolá, em todos os sítios que já passaste, que de certo não foram assim tão poucos. Fala-me das longas experiências que tiveste na tua curta vida, cultiva em mim o teu saber. Borboleta diz-me tu, onde nasceu o teu coração de purpurinas, onde se ergueram as tuas hastes negras, onde nasceu o céu azul e as estrelas se formaram. Diz-me por favor. Explica-me o encanto que vive dentro de uma criança inocente, porque é que existem pessoas más e porque é que num mundo tão belo há também tanta crueldade. Borboleta. Poderei eu agarrar-me a ti e vivenciar o sonho perfeito, onde tu me explicas tudo. E eu sou pequenina e voo contigo, em cima do teu colo, apoiada nas tuas hastes?
Fiel borboleta que me foste mostrada pelo ser que te criou. Aquele menino que tinha olhos cor de mel e que brincava com uma bola listada, preta e roxa e que era tão doce como chocolate quente… sim. Foi ele que me apresentou a ti, pouco tempo depois de te criar e me contou as tuas histórias. O que significavas para ele e o que queria que significasses para quem um dia ficasse contigo. Hoje. Aquele menino de quem todos gostávamos já não existe, bem como a minha infância que já lá vai, o menino morreu. Eu cresci. No entanto continuo a acreditar nas tuas histórias borboleta mágica. Tentas preencher em mim o vazio que aquele menino deixou, quando partiu da minha vida. Sabes, todos temos um pouco de crianças dentro de nós. A minha parte continua lá, junto com o menino que já não existe. Mas quando adormeço agarrada a ti, as minhas memórias regressam á vida e eu vivo o sonho que sempre desejei. Estou a voar no teu dorso e mostras-me as maravilhas da vida. O menino não entra mas é como se também ainda existisse! Triste foi o dia em que descobri que ele partiu. Eram umas cinco da manha e tudo estava estranhamente calmo, com o sucedido não tardei a adormecer num sono profundo. O sono era tamanho que voei para lá do mundo cá fora e sonhei. Ou melhor tive um pesadelo, imaginei que o menino já não era mais matéria. Que tinha desaparecido entre as cinzas e o pó de um cemitério tosco e abandonado. Não é que quando acordei me apercebi que em parte aquilo não tinha sido só fruto da minha imaginação. Sim, tinha morrido. Na noite aparentemente calma tinha havido um acidente enorme, que lhe tinha custado a vida. Tinha levado a sua doçura e infância para sempre, bem como parte da minha. Ainda não tinha desaparecido por entre as cinzas e pó do dito cemitério, mas encontrava-se numa morgue gelada, á espera de uma reconstituição digna. Quando foi enterrado não me deixaram ir ver, pois pensavam que ia chocar a minha doce inocência, mal imaginavam que já tinha vivido aquilo tudo na minha imaginação. Com a mesma dor e a mesma saudade. Tinha sido tudo tão igual e verdadeiro.

1 comentário:

Buh disse...

Gostei muito desta história, ou ate mesmo situação, que tu mesmo crias-te esta, tão lindo, parece um conto de fadas, que nem aqueles que a gente escutava quando era criança, antes de ir dormir. Tanta suavidade nas palavras, bem de facto o testo esta um MIMO de carinho. Adorei ^^